Livros para viajar! Dizem por aí que há muito em comum entre viajantes e leitores. E nem seria para menos: a sensação do novo, do diferente, do desconhecido paira nestes dois perfis.
A descoberta por novas histórias, a expectativa por novas aventuras. Tudo isso está no íntimo do leitor, assim como no cerne do viajante. Afinidade ou não, preparamos uma lista de títulos que podem agradar a estes dois públicos. E, quem sabe, inspirar novos rumos para o mochileiro de plantão e novas viagens para o amigo dos livros.
Aliás, os papéis podem inverter. Mas se o mochileiro aumentar a trégua de viagens enquanto o leitor arruma as malas, ainda assim teremos boas histórias. Confira abaixo os principais livros para viajar sem sair de casa!
Livros para viajar – Pé na Estrada
Considerado um manifesto da geração beatnik, um movimento de jovens anti-materialistas e anti-conformistas. Na época, estes mesmos eram chamados de hipsters, mas o conceito não parece ser o mesmo que se utiliza hoje. Entretanto, o clássico dos anos 1950, de Jack Kerouac, consta em listas de vários viajantes, sejam de viagens físicas ou não.
O livro, levemente autobiográfico, é narrado por Sal Paradise. Ele, com sua gangue de amigos, sai se aventurando pelo país. De leste a oeste, principalmente entre Nova York, Denver e San Francisco, os jovens circulam com carros, ônibus e caronas e poucos dólares no bolso. Entre noites alucinantes de jazz, trabalhos ocasionais e mulheres que vêm e vão, há muito o que narrar. É uma jornada sem propósito maior do que simplesmente cair na estrada.
Livros para viajar – Cem Dias entre o céu e o mar
Uma espécie de diário de viagem que apresenta um dos maiores feitos de Amyr Klink. No livro, o navegador brasileiro cruzar o Atlântico, do sul da África à Bahia (cerca de 6500 km) num minúsculo barco a remo. Termos náuticos não serão um problema e você logo estará familiarizado com tudo isso. Bolina, lastros, escotilha são utilizados a todo momento e você embarca na jornada meticulosamente calculada de Amyr.
Importante destacar que a trama se passa no período de 1984. Ou seja, não há internet, tampouco GPS. Ele negocia com ondas gigantes, estremece diante da constante presença de tubarões, pena com o mau tempo. Momentos delicados e sublimes são descritos por Amyr. Das cores do nascer e do pôr do sol ao momento em que uma enorme baleia passeia debaixo de seu barquinho. Fica nítido o entendimento de sua pequenez diante do mar e atinge um respeito pela vida que nunca imaginou antes.
Livros para viajar – Comer, Rezar e Amar
O livro de Elizabeth Gilbert é, sim, muito conhecido por diversas pessoas. A obra chegou aos cinemas e se popularizou com a atuação de ninguém menos que a Julia Roberts. E, ainda que digam que a interpretação da queridinha das américas não tenha sido das melhores, também não foi ruim. Entretanto, o romance traz bem mais no seu enredo.
O título impresso conta que a crise de meia-idade precoce de Liz é, de fato, bacana. E dá um impulso para quem está pensando em largar o emprego e cair no mundo, o que pode ser sim um bom negócio. Afinal, comer pizza na Itália, rezar nos ashrams da Índia e amar em Bali não é nada mal.
Livros para viajar – As cidades Invisíveis
Publicado em 1972, o livro fininho de Ítalo Calvino traz dedicatórias para diferentes cidades em cada mini-capítulo. A obra traz as histórias que o descobridor veneziano Marco Polo teria contato ao imperador Kublai Khan no século 13.
Seguindo o estilo realismo mágico, em voga na época da publicação, Calvino descreve cidades imaginárias. Estas levariam nomes de mulheres como Leônia, Cecília, Pentesileia. As descrições, geniais, flutuam entre a fábula e o conto popular, com simbologias lindas.
Livros para viajar – Um lugar na Janela
Martha Medeiros é muito celebrada, e este é um dos livros que justifica essa atenção dos leitores. Como a própria cronista descreve no prólogo, o livro é um regaste despretensioso de viagens realizadas em momentos diversos de sua vida.
É leve, fácil. Aquele tipo de volume que é ótimo pra levar para a praia ou para aquele fim de semana no sítio. Ele conta sobre a primeira vez que a autora foi a Europa. Suas reflexões sobre viver em Santiago, seus suspiros diante da beleza da Grécia, seus périplos pelo Japão. Tudo bem descrito. Nele, cada capítulo ou crônica é dedicado a um destino.
O grande Bazar Ferroviário
O escritor americano Paul Theroux também é consagrado na ficção. Mas foram seus livros de viagem que o tornaram um mestre desse tipo de literatura. Todavia, há muita dificuldade em encontrar traduções de algumas das obras do autor por aqui. O Grande Bazar Ferroviário foi publicado em 1975 e trata-se de um longo relato de uma viagem de trem pela Ásia. A trama se passa pelo Irã, Índia, Myanmar, Tailândia, Malásia, Vietnã, Japão, entre outros.
O narrador praticamente se isenta da história no sentido de que pouco sabemos suas motivações. Theroux foca em descrever o que vê e as pessoas com quem conversa, com análises profundas sobre os países que visita. É certo que as coisas já nem são mais assim como descritas. Muito mudou na Ásia nesses 30 anos que se passaram, mas seu relato ajuda a entender o que o continente é hoje. E dá vontade de ir correndo pra lá.
Ioga para quem não está nem aí
O livro de Geoff Dyer não tem nada a ver com yoga. Aliás, é um “mapa rasgado e nada confiável de algumas das paisagens” que formaram a vida do autor britânico. Ele fala de lugares onde coisas aconteceram, ou não. Fala de lugares onde ficou e coisas que ficaram com ele. Fala de lugares que ele queria ver ou onde simplesmente foi parar.
Curioso, não é mesmo? As várias crônicas curtas que pairam entre a ficção e a não-ficção contam casos curiosos, alucinantes, hilários, reflexivos. Há sacadas geniais que repensam o ato de viajar e o reconhecem tanto fascinante quanto sombrio e desconfortável. Dá até vontade de interromper esta leitura e buscar a obra. Mas, calma, tem mais por aí!
Encaramujado
Encaramujado relata uma viagem feita entre 2006 e 2007. O relato do escritor paulistano Antonio Lino é de ter se enfiado numa kombi e cruzado o Brasil. Do Oiapoque a São Paulo, do Acre a Minas, do Mato Grosso à Bahia. Foram mais de 30 mil km rodados. E o resultado disso? Fragmentos do país apresentados em pequenos contos, com uma linguagem poética cheia de frases que dão vontade de anotar num caderninho.
Lino vive em uma comunidade riponga na Chapada dos Veadeiros e escala o Pão de Açúcar. De quebra, ele ainda cursa os Lençóis Maranhenses e se embriaga com o Santo Daime. E, talvez um dos pontos mais significativos de uma narrativa envolvente é as entrelinhas. Permeiam a história dele suas próprias reflexões sobre estar sozinho e viajar pra dentro de si mesmo. Dá para dizer que este é aquele tipo de viagem ao centro de si mesmo.
Livre
Outra obra que virou filme. E que bom, não é mesmo Cheryl Strayed? Imagino que a autora tenha dito sim, mas, se não disse, mais um motivo para ler. O filme homônimo lançado em 2014 e indicado ao Oscar é excelente. Entretanto, é preciso ler o livro para mergulhar dentro da jornada da escritora. A americana cursou a pé 1800 km em três meses a chamada Pacific Crest Trail, que vai da Califórnia até o estado de Washington. A viagem tem carga dramática em dobro, porque além da caminhada longa.
Assim, é acometida por extremos de frio e calor, ursos e coiotes, calos e feridas. Mais do que isso: comida desidratada e noites insones são descritas por ela. Que ainda narra as dificuldades diante da morte da mãe, desmantelamento da família, seu divórcio e envolvimento com heroína. A trilha é uma espécie de redenção e ferramenta para escritora se encontrar dentro de si novamente. O livro é tocante a todo tempo e dá vontade de programar uma trilha para as próximas férias.
Pelas trilhas de Compostela: O relato de uma viagem laica
E por falar em trilha, este é um daqueles que envolve o leitor. O médico e escritor francês Jean-Cristopher Ruffin cuidou de todos os detalhes para aqueles que se aventurarem pela obra. Num dos percursos de peregrinação mais emblemáticos do mundo, ele parte por uma jornada laica. O objetivo é simplesmente pegar a estrada pela evidência da caminhada.
Numa linguagem objetiva, ele esbanja ironia e corta toda e qualquer possibilidade de firula. O autor descreve as paisagens do caminho, as noites nos mosteiros com outros peregrinos e sozinho em sua barraca no meio do nada. E, mesmo que inicialmente não seja lá o ser mais místico, rende-se a ele e o compartilha pela obra. Há ainda citações, referências literárias e reflexões de bons livros de viagem sobre o ato de viajar.
Viagem a Portugal
Para encerrar esta breve lista, nada melhor que um renomado autor. José Saramago tem grandes obras e todos já sabem disso. Mas com o mote de te ensinar mais sobre Portugal e também sobre si mesmo, esta é uma grande obra.
O livro é cheio de frases reflexivas sobre o ato de viajar. Ele traz um misto de crônicas, narrativas e recordações baseadas numa viagem pelos quatro cantos do país entre 1979 e 1980. Boa viagem, aliás, leitura!
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